Primeira grande obra da COP 30, Mercado de São Brás segue sem operação completa, mesmo após duas inaugurações em Belém
07/04/2025
(Foto: Reprodução) Mercado de São Brás segue sem funcionamento após mais de 100 dias. Com investimento de R$ 150 milhões, adaptações pelos empresários e obras na área central ainda estão em andamento, enquanto feirantes permanecem em uma feira provisória, enfrentando dificuldades. Mercado de São Brás, obra da COP 30, em Belém
⏰Três meses depois de inaugurado pela segunda vez em um semestre, o Mercado de São Brás, a primeira grande obra de infraestrutura entregue para a COP 30, segue sem pleno funcionamento, em Belém.
Com orçamento de R$ 150 milhões, a estrutura foi inaugurada pela primeira vez em 17 de setembro de 2024, com a entrega de um pavilhão e da praça em frente ao mercado. Meses depois, em 18 de dezembro de 2024, toda a estrutura do local foi aberta ao público.
Em abril de 2025, ainda em obras, o local pode ser visitado, mas ainda não recebeu de volta os feirantes que trabalham em local improvisado há 2 anos, desde o início da reforma - veja mais abaixo.
Promessa era de funcionamento até fim de março
À época da segunda inauguração, o presidente da Organização Social Instituto Amazônia Azul, que ganhou a licitação para administrar o espaço por 20 anos, disse que a ocupação pelos locatários (empresas) e permissionários (feirantes) seria progressiva e até o fim de março.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Dinei Souza/Agência Belém
Tem gente que consegue fazer sua adaptação (do box) em um mês. Então, esse pessoal começa já na segunda quinzena de janeiro. Tem gente que vai começar na segunda quinzena de fevereiro, mas o grosso mesmo começa no final de março
Participaram da inauguração em dezembro o secretário extraordinário da COP 30, Valter Correia, o diretor da Itaipu Binacional, Carlos Carboni, e o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol).
Ocasião em que Valter Correia, Carlos Carboni e Edmilson Rodrigues cortaram a faixa e inauguraram o Mercado de São Brás, em Belém.
Marcus Passos/g1 Pará
Naquela ocasião, o presidente da O.S. Instituto Amazônia Azul explicou que a adaptação de cada box, por parte dos empresários e feirantes, deveria demorar de 1 a 3 meses.
⌛ Mas isso não ocorreu: Mesmo após essas duas inaugurações, do dia 17 de setembro de 2024 até esta segunda-feira, 7 de abril de 2025, passaram 202 dias e o Mercado de São Brás segue sem o completo funcionamento. Desses, 100 dias são desde a segunda inauguração.
Em nota, Paulo Uchoa afirmou que a entrega feita em 18 de dezembro fazia parte da infraestrutura geral da obra e que "a ocupação progressiva está em andamento e só não foi concluída porque parte das obras de adaptação" não terminaram.
O presidente disse ainda que o Instituto Amazônia Azul concluiu a seleção das empresas que se inscreveram para ocuparem cerca de 80 espaços disponíveis da área central do mercado e que, por isso, as primeiras etapas da ocupação já aconteceram.
"Estamos organizando a última etapa, que é a ocupação física com as visitas técnicas de arquitetos, para adequação dos projetos específicos que precisam estar em consonância com o patrimônio histórico e com o projeto da revitalização", afirmou.
Segundo a Itaipu, responsável pelo financiamento do prédio, a entrega feita ano passado fazia parte do prédio principal do Mercado e que obras "complementares no entorno" ainda estão sendo executadas.
Quando questionados sobre o novo prazo de entrega completa do local, a Itaipu disse a data estimada é julho de 2025. Já o Instituto Amazônia Azul prevê para junho a inauguração completa.
Já a Prefeitura de Belém disse que "as obras continuam porque faltam ajustes e partes da obra a serem finalizadas, o que tem inviabilizado a ocupação do espaço".
A administração municipal também informou que "representantes dos trabalhadores da feira foram recebidos e informados sobre as atualizações da obra" e que "equipes têm realizado visita técnica para acompanhar a evolução dos trabalhos".
O g1 solicitou um posicionamento à Secretária Extraordinária da COP sobre o mercado e quando o local será ocupado pelos feirantes e empresários, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
🚧 Operários ainda trabalham na adequação do espaço, principalmente na área central que deve receber os quiosques, lojas e restaurantes, além de livrarias, exposições e galerias de arte.
Mesmo em obras, a visitação à estrutura física pode ser feita pelo público. Dos R$ 150 milhões investidos no projeto, R$ 90 milhões são da Itaipu Binacional e R$ 60 milhões da prefeitura.
Por meio de nota, a Itaipu afirmou que faz "o acompanhamento técnico do convênio feito com a prefeitura por meio de visitas, reuniões periódicas e análise das prestações de contas" e que a "definição sobre o modelo de operação e a ocupação compete exclusivamente à prefeitura".
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Dois anos de feira provisória
A obra do Mercado de São Brás iniciou em janeiro de 2023, antes mesmo da oficialização do Brasil como país-sede da COP, em dezembro de 2023. Naquele ano, entre abril e junho, 193 feirantes que trabalhavam no local foram transferidos para uma feira provisória.
Feira provisória do Mercado de São Brás, em Belém.
Marcus Passos/g1 Pará
A estrutura foi construída na rua Santa Lúcia, bem atrás do prédio histórico de São Brás. Prestes a completar dois anos trabalhando em um local provisório, muitos feirantes cobram o retorno ao Mercado.
Temos um espaço grande, bonito e organizado (inaugurado), porém temos que continuar trabalhando na feira provisória, naquele calor, sem espaço e sem conforto.
A feirante trabalha há 17 anos no Mercado de São Brás, no segmento de venda de lanches. Segundo ela, essa demora prejudica o comércio de muitos vendedores.
Segundo o presidente do Instituto Amazônia Azul, os feirantes "que estão há muito tempo em local provisório e precário ainda não passaram para seus locais" porque discordam da taxa de aluguel cobrada por metro quadrado e por conta das adaptações que estão sendo feitas pela construtora.
Paulo Uchoa afirma que o Instituto depende da finalização das obras de readequação e "da reorientação do núcleo de comando da Companhia de Desenvolvimento da nova gestão" municipal.
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Patrimônio histórico
Assinado pelo arquiteto Aurélio Meira, o projeto de restauração do Mercado de São Brás inclui um centro de convenções, restaurante panorâmico e terraço.
“Aurélio Meira procurou inspiração em vários outros mercados, como o Mercado do Bolhão de Porto, lá em Portugal, assim como no Mercado de São Paulo, para que a gente pudesse ter o melhor de cada um desses locais”, disse o presidente do Instituto Amazônia Azul.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
O Mercado de São Brás possui 113 anos e foi projetado pelo arquiteto italiano Filinto Santoro. Sua construção foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e concluída em 21 de maio de 1911.
O local foi erguido durante o ciclo da borracha (Belle Époque) e possui uma estrutura construída em ferro e mescla elementos arquitetônicos do art nouveau e o neoclássico, com detalhes escultóricos em ferro e azulejos decorativos.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
Localizada no bairro de São Brás, em frente à praça Floriano Peixoto, o patrimônio passou por uma grande reforma em 1988, com mudanças significativas nos seus aspectos espaciais e de uso.
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